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A nostalgia de Pedro Ibáñez

Esta entrevista foi concedida por Pedro Ibáñez em forma exclusiva para a revista Paula do Chile e editada por Explora para a nossa seção de notícias.

O Chile é o destino que está na moda para 2018, por São Pedro, Patagônia e Ilha de Páscoa, locais onde o empresário ergueu os premiados hotéis Explora. Mas essa visão da vanguarda, que de alguma forma instalou a marca “Chile” no mundo, é tingida pela nostalgia e a busca dos seus próprios paraísos perdidos. Ele fala deles aqui em primeira pessoa.

Minha relação com a natureza

Passei muitos anos da minha juventude, como costuma ser normal, sem ter uma maior sensação do decorrer do tempo, sem prestar muita atenção à paisagem, sem me interessar particularmente pela natureza. Mas pouco a pouco, talvez olhando para o jardim e percebendo os momentos em que as diferentes flores apareciam, comecei a me conectar. Isso mesmo se acelera ao perceber a mudança das estações. Como jovem, o único que você queria era que o verão viesse rápido para não ter aulas e ir à praia. Mas quando você já pode apreciar ao outono com suas cores, ou o inverno com o frio e a chuva, acho que você começa a entender o ritmo da natureza. Essa descoberta se acentuou em mim quando comecei a apreciar e desfrutar, além disso, as diferenças na luz, tanto durante o dia quanto entre as estações do ano.

Eu acho que os estágios que assinala a natureza têm muito a ver com os estágios da vida. Eu imagino que uma vida desconectada, plana, onde as coisas acontecem ‘por acima’, onde talvez você possa dizer ‘aqui, não aconteceu nada’, causaria que aos 60 anos de idade, você só sentisse que a vida passou. A noção de mudança, entretanto, marca um ritmo que faz você se conscientizar de si mesmo, do que acontece ao longo dos anos. E isso, no meu caso, me permitiu enriquecer minha vida. Portanto, e a natureza que me ensinou a ter consciência do que se vive.

Eu fui um empreendedor toda a minha vida, fui uma pessoa dedicada a aquilo que, devido a diferentes circunstâncias, me tocou. E eu o fiz, às vezes com mais vontade que ouras. E hoje em dia, que já deixei os negócios, eu me sinto mais liberado. Explorador? Todo mundo é um explorador de alguma forma. Todos aqueles que tentam estar cientes de si mesmos estão procurando as coisas que melhoram e tornam a vida mais valiosa.

Eu me sinto muito relacionado com o território chileno. Quando me propõem viajar para a Europa, penso: “Por que não melhor o altiplano?”. É difícil mudar esses modos. Para mim, estar no Chile é muito vital; As coisas que acontecem na natureza chilena, sua paisagem, o clima, as estações, a cordilheira, me revitalizam e se eu deixo de tê-las, sinto falta delas.

Identidades do Chile

Explora foi uma nostalgia pelo Chile de 25 anos atrás, desse presente; das suas paisagens, dos seus contrastes, do que as pessoas eram, da sua naturalidade, da falta de pretensão, da autenticidade, da simplicidade da vida. Do seu isolamento do resto do mundo, do desconhecido que era… Considerávamos que tudo isso dava uma identidade muito singular ao nosso país em relação a outros lugares do mundo e veiamos que, apesar de ser Chile, no final dos anos 80 ou início dos 90, um país muito desconhecido, muito distante para todos os viajantes, acabaria por se tornar conhecido e se integrar aos circuitos turísticos. Queríamos propor uma maneira de visitá-lo que o faria justiça, que respeitara a sua identidade e que lhe desse valor. Explora nasceu como um programa de exploração das áreas mais expressivas da sua natureza. Os hotéis que usamos como bases dessas explorações foram projetadas tendo em conta as características ou estilos de cada local. Se não houvesse um estilo claro, definimos um que se adequasse à paisagem ou a historia desse lugar. Nossas construções pretendem dar valor à paisagem, complementando-a. A arquitetura é uma atividade humana que, bem feita, acrescenta o natural produzindo um conjunto mais rico.

Explora também foi uma nostalgia do passado, ou daquele passado que eu consegui vislumbrar, e que me deixou memórias inesquecíveis: as longas viagens de barco, as estadias nos hotéis termais, ou aquelas, que devido às dificuldades do terreno faziam do cavalo um meio de transporte. Isso dava a você a oportunidade de ter tempo, conhecer pessoas insuspeitas, ter conversas longas e ler.

Anteriormente as cidades, pouco comunicadas entre si, também originavam diferentes tipos de vida, idiossincrasias variadas que faziam que cada lugar tivesse sua própria personalidade. Havia uma diversidade nesse aspecto que fazia do nosso país um país mais profundo.

Resgatamos a identidade do hotel em oposição às “cabanas” que se desenvolveram entre os anos 60 e 90 e que não eram uma boa maneira de conviver com outros. Por diferentes razões, os antigos hotéis chilenos haviam desaparecido ou estavam em mau estado. Nós definimos o conceito de luxo do essencial; ter apenas as coisas que foram exigidas pela necessidade de viver na distância, em um clima adverso ou em condições exigentes. Abundante água, uma boa cama, comida leve, interiores simples. O luxo do essencial é o oposto do luxo do acessório, que é o luxo típico, onde as coisas ou espaços às vezes estão de mais e quase sempre são pretensiosos. E, é claro, queríamos manter esse espírito de austeridade, viver com pouco.

Explora também foi nostalgia pelo futuro: contribuir de qualquer maneira, com um grão de areia, ao Chile mantendo suas qualidades como país; que o progresso que se aproximava não apagara o bom, que o país fora conhecido também pelos chilenos, de modo que entre todos nós estaríamos preocupados com sua natureza, da sua identidade… e que essa identidade se acrescentara dia a dia.

Outro aspecto da identidade chilena que tivemos que redefinir é que o Chile não é um país onde você pode fazer turismo: no Chile você precisa viajar. Não temos nem monumentos religiosos nem cidades atraentes, nem muitos museus, todos estes pontos culminantes do “turismo”. A viagem, pelo contrário, consiste no curso não no ponto final de chegada. O curso pode ser feito mais lento ou mais rápido, mas permite que você se conecte com realidades. No caso de Explora, a viagem a pé, a cavalo ou de bicicleta nos permite ver o que acontece nos arredores, permite nos encontrar com o inesperado, permite conhecer mais detalhadamente; permite, mesmo, mudar de destino.

Uma experiência vital

“Nunca deixe de explorar porque cada vez que você retorna ao seu local de origem, você o verá como se fosse a primeira vez” (T.S.Eliot).

As viagens e a exploração, pelo contato verdadeiro com diferentes realidades, frequentemente provocam tal mudança de perspectiva que fazem que as coisas pareçam diferentes. E a exploração ao remoto, ao mais distante, aumenta essa maior perspectiva em relação ao seu local de origem, sua própria vida; Isso irá fazer você ver as coisas do dia a dia de uma maneira diferente. E, bem, a maior e a mais profunda identidade do Chile é ser um país remoto…

Fonte: Revista Paula.


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